IV Domingo de Páscoa é chamado “Domingo do Bom Pastor”




IV DP – 2012
At 4,8 -12; Sl 117 (118); 1Jo 3, 1-2; Jo 10,11-18


1. Meus irmãos,
celebramos o Tempo Pascal, constituído por 50 dias, pautado por 8 domingos. Hoje celebramos o IV Domingo Pascal e, assim, chegamos à metade deste itinerário espiritual, que tem por finalidade aprofundar a celebração da Páscoa de Jesus, da qual nos vem a nossa salvação.



2. Há muitos séculos o IV Domingo de Páscoa é chamado “Domingo do Bom Pastor”, pois Jesus é o Bom Pastor, Aquele que deu a vida por nós, as Suas ovelhas. Há 44 anos o “Domingo do Bom Pastor” é, também, a “Jornada Mundial de oração pelas vocações sacerdotais”, instituída pelo Papa Paulo VI (+1978). Hoje é, portanto, dia de pedir ao Senhor da Messe que envie operários, inspirados no “Bom Pastor”, Aquele que deu a vida pelas Suas ovelhas. Ao final da missa, recitaremos a oração que o Papa Bento XVI preparou para que rezemos pelas vocações sacerdotais.



3. O Evangelho da missa de hoje é a ocasião em que Jesus Se apresenta como o “Bom Pastor”, pois Ele é Quem dá a sua vida por suas ovelhas (vv. 11.14). A imagem do Pastor tem feições messiânicas, ou seja, o esperado Messias seria pastor do Povo de Israel (cf. Ez 34). Jesus Se apresenta como “Bom Pastor” em contraste com o mercenário, que não é pastor. O Bom Pastor é o dono das ovelhas. O mercenário é pastor contratado, que não é dono das ovelhas, e que foge quando aparece uma fera (vv. 12-13). O Bom Pastor, que é o dono das ovelhas, não foge diante dos perigos, mas dá a vida pelas Suas ovelhas. 



4. Na mesma ocasião, Jesus disse: “Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a minha vida pelas ovelhas” (vv. 14-15). Jesus diz que conhece as ovelhas, e diz que as Suas ovelhas O conhecem, também. Dentre os contemporâneos aos primeiros cristãos havia o grupo dos gnósticos, que ofereciam um “conhecimento” (gnose) caído do céu, ou seja, uma revelação pessoal, que relativizava a pessoa e a palavra de Jesus (cf. 1Jo 1,1-4; 2,3-4; 4,8-9). O Filho de Deus se fez homem e, assim, entrou no templo, no espaço, e na história humana. Através da convivência com os Seus discípulos, Jesus manifestou o Amor de Deus, de forma que Ele conhece as Suas ovelhas, e as Suas ovelhas O conhecem. Na Bíblia, o “conhecimento” não é expressão apenas da razão, mas, sobretudo, da presença de Deus (Jo 10, 14-15; 14, 17-20; 17, 3. 21-22; 2 Jo, 1-2) que desabrocha em amor (cf. Os 6, 6ss; 1Jo 1,3ss; cf. nota da Bíblia de Jerusalém a Jo 10,14). Jesus diz que conhece o Pai, e que dá a Sua vida pelas ovelhas (v. 15), ou seja, pela humanidade. É por causa desta profunda relação com o Pai que Jesus dá a Sua vida pelas ovelhas. Mais adiante, Jesus diz: “É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida. E assim, eu a recebo de novo” (v. 17). Pai e Filho Se amam desde a eternidade, e o Filho nos fez conhecer esse amor através de Sua morte. O Pai dos céus O ressuscitou porque tem a ultima palavra. Por isso Jesus pôde dizer que dá a Sua vida e a recebe de novo. 



5. Jesus deu a Sua vida pelas ovelhas, e a recebeu de novo na Sua ressurreição, em favor de toda a humanidade. É por isso que Ele disse: “Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste redil; também essas devo conduzir, e elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (v. 16). A missão de Jesus Cristo e, por consequência, de Sua Igreja, é a unidade da humanidade (GS 92). Por isso, em meio aos riscos de divisão, Jesus diz que tem ovelhas fora de Sua Igreja, que Ele há de conduzir, a fim de que haja um só rebanho e um só pastor.



6. Na 1ª. leitura ouvimos mais um dos discursos de S. Pedro, fixados no livro dos Atos dos Apóstolos. Este discurso se deu após a cura de um aleijado, feita em nome de Jesus Cristo (cf. At 3,1-10). S. Pedro, então, justificou-se diante do sinédrio, servindo-se de dois textos do Antigo Testamento, mostrando como estes textos foram cumpridos por Jesus Cristo. Primeiro, S. Pedro se serviu das promessas do “Servo Sofredor”, como ouvimos semana passada. Disse S. Pedro: “é pelo nome de Jesus Cristo Nazareno, aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou, é por seu nome e por nenhum outro que este homem foi curado” (v. 10). O “Servo Sofredor”, profetizado por Isaias, haveria de sofrer pela salvação da humanidade, e por Deus haveria de ser exaltado. Jesus cumpriu esta profecia em plenitude. Ele foi crucificado – a humilhação, e pelo Pai dos Céus foi ressuscitado – a exaltação, para oferecer, assim, o perdão e a salvação à humanidade (v. 12). Em seguida, S. Pedro aplicou a Jesus o Salmo 117 (que recitamos na missa de hoje): “É ele a pedra que vós, os construtores, rejeitastes, e que se tornou a pedra angular” (v. 11; cf. Sl 117, 22). Em ambas as citações do Antigo Testamento aplicadas por S. Pedro a Jesus está presente a doção que Ele, Jesus, fez de Sua vida, como ouvimos no Evangelho: “Eu dou a minha vida pelas ovelhas (...) Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade” (v. 15b.18a). O Bom Pastor deu a Sua vida pelas Suas ovelhas, ressuscitou, é a “pedra angular” de Sua Igreja, o Novo Povo de Deus, assinalado pelo dom da salvação.



7. A 2ª. leitura nos mostra uma das dimensões da redenção operada por Jesus Cristo. Através de Sua missão, nos somos transformados em filhos de Deus. Jesus Cristo é o Filho eterno do Pai dos Céus. Àqueles que O acolheram, deu-lhes o poder se tornarem filhos de Deus (cf. Jo 1,12). Ouvimos na 2ª. leitura que ser filhos de Deus é expressão de Seu amor (v. 1), e que caminhamos para o nosso destino definitivo, o Reino dos Céus, no fim dos tempos, quando “seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (v. 2). O Bom Pastor, que é o Filho eterno de Deus, deu a Sua vida para a nossa salvação, para que n’Ele nos tornemos, também, filhos de Deus, na vida presente, caminhando para o Céu, a nossa pátria definitiva (cf. Hb 13, 14), quando seremos semelhantes a Ele, quando O veremos como Ele é.



8. Meus irmãos, Jesus Cristo é o Bom Pastor: é o Filho eterno do Pai dos Céus, por Ele enviado, para a nossa salvação. Jesus Cristo é o Bom Pastor, que conhece as Suas ovelhas, e é por elas conhecido. Jesus Cristo é o Bom Pastor, o Filho eterno, em quem somos os filhos adotivos e, assim, se iniciou a nossa salvação (2ª. leitura). Jesus Cristo é o Bom Pastor que foi crucificado, e que pelo Pai foi exaltado na Sua ressurreição (1ª. leitura). Jesus Cristo é o Bom Pastor, a pedra rejeitada que Se tornou a pedra angular (1ª. leitura e Salmo). Jesus Cristo é o Bom Pastor, que voltará no fim dos tempos (Mt 25,31ss), para concluir a nossa história, quando seremos semelhantes a Ele e O veremos como Ele é (2ª. leitura). Jesus Cristo é o Bom Pastor que contemplamos nesta Páscoa, mais uma vez em nossas vidas, e Lhe agradecemos o dom da salvação, o dom de sermos filhos de Deus. E contemplando o Bom Pastor, pedimos nesta “Jornada Mundial de oração pelas vocações sacerdotais”, que o Pai dos Céus desperte vocacionados em nossa Igreja, a exemplo d’Ele, o Bom Pastor, que reúnam e edifiquem o Povo de Deus, para que exista um só rebanho e um só pastor.



V. Louvado seja N. S. J. C.!