V Domingo de Páscoa-B




V Domingo de Páscoa-B
At 9,26-31; Sl 21(22); 1Jo 3,18-24; Jo 15,1-8 


1. Meus irmãos,
celebramos hoje o V Domingo de Páscoa. Já passamos da metade do Tempo Pascal, este importante período do Povo de Deus, que tem a finalidade nos ajudar a aprofundar o mistério da Páscoa de Jesus Cristo – Sua morte e ressurreição – da qual nos vem a nossa salvação. Este aprofundamento há de permitir que todo o Povo de Deus viva em comunhão com Cristo, seu Senhor, e que possa dar frutos desta comunhão, como ouvimos na primeira leitura: “A Igreja, porém, vivia em paz em toda a Judéia, Galiléia e Samaria. Ela consolidava-se e progredia no temor do Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo” (v. 31).

2. O Evangelho nos apresenta a parábola da videira, dita por Jesus na Última Ceia, segundo o relato de S. João (cc. 13-17). Jesus Se apresenta como a videira, apresenta o Pai dos Céus como o agricultor, e nos apresenta, os Seus discípulos, como os ramos. O Pai dos Céus enviou o Seu Filho único, Jesus Cristo, para anunciar o Evangelho e salvar a humanidade. O Evangelho de Jesus Cristo foi por Ele anunciado, por palavras e obras – por palavras testemunhadas pelas suas obras – através de um caminho de vida por Ele traçado. Este caminho nos realiza na vida presente e nos conduz à vida eterna. Jesus traçou este caminho na nossa história, e espera que o percorramos, que sejamos os Seus discípulos. 

3. O nosso seguimento a Jesus Cristo se dá à medida que acolhemos a Sua Palavra, que toca os nossos corações, e à medida que acolhemos a Sua graça, que nos dá força e coragem para por em prática a mesma Palavra. A Palavra de Cristo toca os nossos corações. Por isso, Jesus disse: “Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei” (v. 3). Jesus disse que estamos limpos por causa de Sua Palavra. No chamado “Sermão da Montanha”, Jesus disse: “Bem aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8). A verdadeira pureza é ter um só Deus, e rejeitar os ídolos. A Palavra de Jesus é a Palavra de Deus, porque Ele é o Verbo divino, que toca os nossos corações, para que nos convertamos, para que superemos os nossos pecados, para que não tenhamos ídolos que nos distraiam de conhecer a vontade de Deus, mas acolhamos o Seu chamado a viver em comunhão com Ele. Assim, a Palavra de Cristo toca os nossos corações e nos purifica, para que vivamos a verdadeira pureza, e para que coloquemos em prática a vontade de Deus. 

4. Ao acolher a Palavra de Deus é necessário perseverança. Por isso, Jesus diz que somos os ramos da videira. Jesus não é apenas alguém que admiramos, mas é o Filho de Deus, nosso Salvador. Ele nos chama a viver em comunhão com Ele, e por isso disse que somos os ramos da videira. É necessário perseverar nesta comunhão com Jesus. Por isso, Ele disse: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim” (v. 4). Jesus expressou a comunhão com Ele com a palavra “permanecer”. A palavra “permanecer” ocorreu também na segunda leitura, como ouvimos: “Quem guarda os mandamentos (de Jesus Cristo) permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu” (v. 24). Jesus traçou um caminho de vida e espera que o percorramos. Jesus nos dirige a Sua Palavra – os Seus mandamentos – e espera que os coloquemos em prática. Jesus nos convida a viver em comunhão com Ele – a permanecer com Ele – e a perseverar nesta comunhão. Jesus nos ensina a amar o próximo por amor a Deus, e espera que O imitemos. De Jesus, somos os ramos, e Ele espera que demos frutos (vv. 2.4.5.. Mas só poderemos dar frutos se vivemos em comunhão com Ele, pois, como Ele mesmo disse: “sem mim nada podeis fazer” (v. 5). 

5. Para perseverar na comunhão com Deus é preciso acolher a Sua graça, porque Deus é comunhão das três Pessoas divinas – o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Quando Jesus termina a Sua missão entre nós, Ele volta para o Pai. Pai e Filho enviam sobre a humanidade o Seu Espírito, o Espírito Santo, que tem a missão de recordar em nós as Palavras de Jesus, e nos dar coragem de colocá-las em prática. Por isso, ouvimos S. João dizer na segunda leitura, como ouvimos: “Quem guarda os mandamentos (de Jesus Cristo) permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu”. O Espírito Santo nos faz recordar as Palavras de Jesus para que as coloquemos em prática, o Espírito Santo faz com que permaneçamos no amor de Deus, que vivamos em comunhão com Ele, para que acolhamos a graça de Deus, para que façamos a Sua vontade: tem a missão de recordar em nós as Palavras de Jesus e nos dar coragem de colocá-las em prática. “Quem guarda os mandamentos (de Jesus Cristo) permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu”. O nosso Deus é único e é trino, é comunhão eterna do o Pai e o Filho e o Espírito Santo. E, através de Jesus, Deus nos convida a viver em comunhão com Ele. Servindo-me das palavras de Jesus: Ele é a videira, o Pai dos Céus, o agricultor, nós, os ramos, e o Espírito Santo a nos recordar as Palavras de Jesus e nos dar coragem de colocá-las em prática.

6. A comunhão é um ideal, sim, mas não é apenas um ideal. A comunhão se realiza nas nossas atitudes. A comunhão brota do coração trinitário de Deus e se encarna na Igreja Católica. É por este motivo que S. Paulo, como ouvimos na primeira leitura, que foi convertido pelo próprio Jesus Cristo, foi se apresentar a Pedro e à Igreja-Mãe de Jerusalém (cf. Gl 1,15-24). S. Paulo tinha muito claro que a comunhão se realiza nas nossas atitudes e se encarna na Grande Igreja, a Católica, que tem em S. Pedro e nos seus sucessores, o sinal visível desta comunhão. 

7. Em meio a tanta beleza, a Palavra de Deus também nos dirige algumas advertências. Disse Jesus: “Todo ramo que em mim não dá fruto (o Pai) o corta; e todo ramo que dá fruto, (o Pai) o limpa, para que dê mais fruto ainda” (v. 2). Jesus disse, também: “Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (v. . S. João, na segunda leitura, disse: “não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade” (v. 18). Jesus traçou um caminho de amor e de justiça na nossa história, e espera que o percorramos. Jesus traçou o Seu caminho, e espera que sejamos os Seus discípulos, que O imitemos, e que coloquemos em prática a Sua Palavra. Há, portanto, uma relação entre ser discípulo de Jesus Cristo e dar frutos de Sua Palavra, ou seja, quem realmente é discípulo de Cristo põe em prática a Sua Palavra. Por isso, Jesus disse: “Todo ramo que em mim não dá fruto (o Pai) o corta”. Não produzir frutos significa resistir à Palavra de Deus e à Sua graça. Por isso, Jesus alerta que o Pai dos Céus cortará o ramo que não produzir frutos. A vida possui, também, provações. Por isso, Jesus disse: “todo ramo que dá fruto, (o Pai) o limpa, para que dê mais fruto ainda”. Mais adiante, Jesus disse: “Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados” (v. 6). O ramo que não produz frutos da Palavra de Cristo será lançado fora, secará e será queimado. É o inferno, e a infelicidade eterna, para aqueles que resistem à Palavra de Deus e à Sua graça, que resistem ao Seu amor, à Sua misericórdia.

8. Jesus Cristo, o Filho de Deus que Se fez homem para a nossa salvação, tem consciência das nossas necessidades e das provações pelas quais passamos. Por isso, Jesus disse: “todo ramo que dá fruto, (o Pai) o limpa, para que dê mais fruto ainda” (v. 2). E disse, também: “pedi o que quiserdes e vos será dado” (v. 7). Na mesma perspectiva, disse S. João, como ouvimos na segunda leitura: “qualquer coisa que pedimos recebemos dele, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é do seu agrado” (v. 22). A melhor oração é pedir o que Deus quer, é conformar a nossa vontade a vontade de Deus. E como Jesus nos ensinou a rezar no “Pai Nosso”, o oração modelar do cristão: “Venha a nós o Vosso Reino, e seja feita a Vossa vontade, assim na terra, como nos Céus” (Mt 6,10). A nossa comunhão com Deus deve ser tal que a nossa oração seja um moldar a nossa vontade a vontade de Deus, pois só esta nos faz felizes. É a pureza de coração que nos faz perceber a vontade de Deus e a querê-la, que nos faz perceber a vontade de Deus e colocá-la em prática. E a oração – diária e perseverante – nos ajuda a viver em comunhão com Deus, a moldar a nossa vontade a vontade de Deus, para que possamos dar os frutos de amor e de Sua Palavra.

9. Meus irmãos, ainda nos restam mais três semanas do Tempo Pascal, para aprofundar a nossa comunhão com Deus, contemplando o Seu amor manifestado através da Páscoa de Jesus Cristo – Sua morte e ressurreição. Aprofundamos a nossa comunhão com Deus acolhendo a Palavra de Cristo, que toca os nossos corações, acolhendo a Sua misericórdia por nós, acolhendo a Sua graça, na força do Seu Espírito, para que possamos dar os frutos da mesma Palavra, com os quais o Pai dos Céus é glorificado, pelos méritos de Cristo, nosso Redentor.

V. Louvado seja N.S.J.C.!
R. Para sempre seja louvado!