Todos com os ramos nas mãos!
Ramos da Paixão, Lc 22,14-23,56 (Ano C)
Sim, todos com os ramos nas mãos! Nas duas mãos para que uma não fique desocupada. O que é para Deus deve ocupar as duas mãos! A liturgia deste domingo nos recorda o texto da paixão, o que ajuda aqueles cristãos que não podem devido seus empregos participar da celebração da Semana Santa.
O que é incrível é que a liturgia coloca este texto do Evangelho justo num dia que é de triunfo: a entrada gloriosa de Jesus em Jerusalém, onde as pessoas o aclamaram com ramos e estendendo suas roupas pelo caminho que Ele passava. Entra como o “príncipe da paz” no sentido da reconciliação da humanidade com Deus. Porém, na liturgia tudo começa com um “hosana”, mas depois o que se ouve é “crucifica-o”. Mas este mistério tem tudo a ver com a entrega voluntária de Jesus, de sua vida, por toda humanidade. Ele sabia que tinha chegado a hora. Não havia forças maiores que Ele para o matarem. Apenas aconteceu sua entrega voluntária pela humanidade. O amor foi maior.
Sempre se fala de uma pessoa a partir do seu nascimento: onde nasceu, filho de quem é, condição social, emprego, e por aí vai. No entanto, na vida de Jesus se compreende sua vida a partir do momento da paixão, morte e ressurreição. É um olhar para trás e não da gênese até o momento de sua morte. Toda história só é bem refletida graças à sua Ressurreição.
Os estudiosos ficam discutindo se Jesus morreu por razões religiosas ou por questões políticas. Mas ele foi condenado tanto por judeus quanto pelos romanos, e, tanto por motivos religiosos quanto os políticos. Imagine a cara de Jesus se naquele tempo houvesse “mensalão”.
Mas será quem foi que armou tudo para Jesus ser condenado? Será que foi Judas? Barrabás, Pilatos lavando suas mãos, negação de Pedro, os dois ladrões, ou os nossos pecados, etc? Caro leitor, lembre-se desta expressão; “Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro” (1Pd 2,24). Será que foi só Judas? E os outros onze onde estavam no momento da via sacra de Cristo? Por que fugiram? Medo da cruz também? Será que nos tempos hodiernos também fugimos de nossos compromissos paroquiais para não carregar o peso da cruz? Ou só rasgamos sorrisos e gargalhadas nos dias das quermesses?
Nossos pecados foram cravados naqueles pregos que mataram Jesus, tanto Isaias quanto a Carta de Pedro nos lembram disso: “Ele foi castigado por nossos crimes e esmagado pelas nossas iniquidades” (Is 53,5; 1Pd 2,24), por isso hoje podemos perguntar: como em Samuel: “Tu és aquele homem!” (2Sm 12,7). Será que sou este homem que depois de dois mil anos, com meus pecados ainda continuo a matar o Cristo?
Um famoso escritor, Paul Winter, diz: “Os acusadores de uma vez morreram... As testemunhas foram para casa. O Juiz deixou o tribunal. Mas o processo de Jesus continua ainda”. Pois este processo continua mesmo em dois sentidos: em cada agente de pastoral que é perseguido pela justiça e ao mesmo tempo em cada pessoa que vira as costas para Deus: “Não a este, mas sim a Barrabás”.
Não podemos nos esquecer de Cirineu. O homem que ajuda Jesus a levar a cruz. As mulheres que choram.... quantas mães que hoje choram pelos seus filhos... e principalmente Maria que fica em lágrimas silenciosa diante da cruz. Mas se você, caríssimo leitor, preferir, ficar olhando de longe como Judas, Pilatos e Pedro, daí sinto muito, chegou o teu momento de reflexão, discernimento e conversão.
Caríssimo leitor, você sabe que a “pedra rolou”. O sepulcro se abriu, Jesus ressuscitou. Será? Ele ainda está no sepulcro de muita gente esmagada pelo preconceito, pela fome, miséria, desemprego, briga, drogas, alcoolismo, indiferenças, individualismo, e tantos ismos que existem. Ali ainda a pedra não rolou. Ali ainda Jesus continua sepultado. Não aconteceu a ressurreição. E assim como os judeus, os romanos e os nossos pecados condenaram Jesus à morte de cruz, ainda hoje podemos correr o risco de não deixar a pedra rolar.
A Semana Santa nos leva a um olhar mais criterioso à cruz. Lembrar deste momento e emocionar-se por um Deus que morre pelos nossos pecados. Vem logo o Domingo da Páscoa. A Semana Santa deve ser cada semana da nossa vida, e a Páscoa é a cada dia. Caro leitor, desejo a você uma feliz e abençoada Semana Santa, e com certeza uma SANTA PÁSCOA!
Dom Orani João Tempesta, OCist.
Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese do Rio de Janeiro