Ascensão do Senhor – B (2012)




Ascensão do Senhor – B (2012) 
At 1,1-11; Sl 46; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20


1. Meus irmãos,  Hoje celebramos – ainda durante o Tempo Pascal – a Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, quando Jesus foi elevado aos céus. A ascensão do Senhor significa a glorificação de Jesus Cristo ao sentar-se à direita do Pai. A Ascensão do Senhor foi a “última aparição de Jesus” após a Sua ressurreição, com a qual se deu “a entrada irreversível de sua humanidade na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu onde já está desde agora sentado à direita de Deus” (Catecismo da Igreja Católica 659). “Por direita do Pai entendemos a glória e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus, antes de todos os séculos como Deus e consubstancial ao Pai, se sentou corporalmente depois de encarnar-se e de sua carne ser glorificada” (Ib. 663).

2. Jesus, após a Sua ressurreição, não veio para retomar o que fazia antes, nem implantar um reino político. Jesus, que inaugurou o Seu Reino no meio de nós – o reino dos Céus – nos convoca a ser os Seus instrumentos de paz, ao dizer: “Sereis as minhas testemunhas... até os confins da terra” (At 1,8). Após a Sua Ressurreição, Jesus voltou aos Seus discípulos em condição gloriosa, a fim de animá-los com o Seu Espírito. Esta nova condição de Jesus – gloriosa – é para nós uma antecipação da vida eterna. Isto significa que, da mesma forma que Jesus entrou na Sua glória, como Senhor glorioso, assim Ele voltará, no fim dos tempos, para concluir a história da humanidade (cf. At 1,11).

3. Com a Sua Ascensão, Jesus manifestou que é o Senhor do Universo e da História. O Salmo da celebração de hoje, o Salmo 47 [46], assinala o senhorio de Cristo sobre o Universo e sobre a História. Por isso, recitamos: “Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta” (v. 6). Compete a nós, obedientes à sua Palavra, colaborar com a Sua missão, construir o Seu Reino, como Seus instrumentos de paz. 

4. Com a Ascensão de Jesus aos Céus se dá o início da missão da Igreja sob a força do Espírito Santo de Deus. Por isso, Jesus disse aos Apóstolos esperar em Jerusalém serem investidos pelo Espírito Santo (vv. 4-5). Jesus, assim, anunciou mais uma vez, a vinda do Espírito Santo, o Pentecostes (At 2), que celebraremos no próximo Domingo. 

5. O Evangelho, há pouco proclamado, fala da Ascenção do Senhor (v. 19), evento que foi melhor relatado pela 1ª leitura. Por primeiro, se fala que Jesus apareceu, depois de ressuscitado, por 40 dias, falando do Reino de Deus (v. 3). O número quarenta é muito precioso para o Povo de Deus. Quarenta foram os dias com os quais Jesus Se preparou para sua missão no deserto e, agora, aparece por 40 dias, manifestando a vida nova após a Sua glorificação. Assim, Sua ressurreição e Sua Ascensão, pautadas por 40 dias, manifestam, mais uma vez, a ação de Deus no seio do Seu Povo.

6. A Ascensão de Jesus se deu no contexto de uma refeição. Nesta ocasião, Jesus é interrogado, mais uma vez, sobre a restauração do Reino de Israel (v. 6; cf. Lc 24,21), ou seja, se Ele, o Messias, instauraria um novo reino davídico. Jesus, então, contrapõe esta ideia com as promessas do Espírito Santo e com a missão dos discípulos serem as Suas testemunhas até os confins da terra. Disse Jesus: “... recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia, e na Samaria, e até os confins da terra” (v. . A promessa e a missão dos discípulos estão inteiramente unidas: os discípulos serão investidos do poder do Espírito Santo para serem as testemunhas de Cristo. Os discípulos devem ser testemunhas de Cristo nos seio do Povo de Israel, mas a sua missão tem caráter universal. Por isso, Jesus disse que eles seriam as Suas testemunhas na Samaria, que já não pertencia ao Povo de Israel, e até os confins da terra, ou seja, a todas as nações. 

7. Após ter dado esta última orientação, Jesus foi arrebatado, de forma similar como o fora o profeta Elias (cf. 2Rs 2, 1-18). Da mesma foram que Eliseu, o discípulo de Elias, recebeu “dupla porção” de seu espírito, os discípulos de Cristo receberão o Espírito Santo para serem as Suas testemunhas.

8. Jesus foi, então, ocultado por uma nuvem. As nuvens são sinal da manifestação de Deus, para Moisés e o povo, no Êxodo (Ex 13, 22ss; cf. Ex 40, 34-35), e na Transfiguração de Jesus (Lc 9, 34-35; par.). Maria, para conceber em seu seio o Filho de Deus foi coberta com a sombra do Altíssimo (cf. Lc 1,35). Com a imagem da nuvem temos o significado profundo da Ascensão de Cristo. Longe de ser tirado de nós, Cristo foi assimilado no mistério de Deus. Ele, longe de ser tirado, está presente numa nova dimensão de amor divino que abraça o universo (cf. Bento XVI, Jesus de Nazaré, v. II, p. 256). Assim, Jesus Cristo, assentado à direita do Pai está acessível e próximo de nós, de maneira nova e permanente, como Ele disse na Última Ceia: “Vou e venho para vós” (Jo 14,28). 

9. Em seguida, apareceram dois anjos, como no sepulcro, após a ressurreição (cf. Lc 24,4), e disseram aos discípulos: “Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (v. 11). Os anjos anunciam a volta de Cristo, a sua segunda vinda, e agora os discípulos não devem ficar parados, agora é hora de testemunhar as maravilhas do Senhor. 

10. A 2ª leitura é um trecho da Carta de S. Paulo aos Efésios. S. Paulo ao compor este trecho tinha em mente os primeiros versículos do Salmo 110 [109] aplicados a Jesus: “Palavra do Senhor ao meu senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos como escabelo de teus pés”. Este Salmo apresenta o Messias esperado como rei universal e como sacerdote eterno (cf. 2 Sm 7,1ss; Zc 6,12-13). [O próprio Jesus aplicou este Salmo a Si (cf. Mt 22,41-45), e Ele o cumpriu plenamente (cf. Mt 27,11; 28,18; At 2,34-35; Hb 1,13; Ap 19,11-16)]. Disse S. Paulo: “(Deus) manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus” (v. 20) e, mais adiante: “Ele pós tudo sob seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja” (v. 22). Jesus é o Messias universal e o sacerdote eterno e, tendo feito a Sua oblação na cruz, o Pai dos Céus O ressuscitou e O fez sentar-Se à Sua direita, tendo posto tudo a Seus pés. É de se notar que ao falar da glorificação de Jesus Cristo, S. Paulo disse que Deus O ressuscitou dos mortos e O fez assentar-Se à Sua direita. Temos, aqui, portanto os dois momentos da glorificação de Jesus Cristo, que nos ajudam a compreender a Sua Ascensão. Embora intimamente ligadas, Ressurreição e Ascensão são dois momentos da glorificação do Filho de Deus, nosso Salvador (cf. Catecismo da Igreja Católica, 660). Na Ressurreição, o Pai faz com que o Filho de Deus encarnado manifestasse a Sua vida nova. Na Ascensão, o Pai coloca o Filho de Deus à sua direita, ou seja, O assimila definitivamente ao seu mistério, depois de operar a salvação da humanidade.

11. O Filho de Deus ao Se encarnar (cf. Jo 1,14) assimilou definitivamente ao Seu ser a nossa humanidade. Na Sua Páscoa – Sua morte e ressurreição – o Filho de Deus não perdeu a humanidade, mas através dela manifestou a Sua glória eterna, [como no dia de Sua Transfiguração (cf. Mc 9,2-10; par.)]. Assim, ao contemplar hoje a Ascensão do Filho de Deus, contemplamos também a nossa humanidade assimilada para sempre no mistério de Deus. Por isso, se pode rezar, como se fará na “Oração depois da comunhão”: “... fazei que nossos corações se voltem para o alto, onde está junto de vós a nossa humanidade”. Então, da mesma forma que o Filho de Deus, na Sua encarnação assimilou a nossa humanidade, na Sua Ascensão, que hoje celebramos, contemplamos a nossa humanidade, mais uma vez, assimilada definitivamente ao mistério de Deus.

12. Como ouvimos na 2ª leitura, Jesus Cristo é a Cabeça da Igreja, que é Seu corpo (vv. 22-23). Com a Sua Ascensão, Jesus Cristo, a Cabeça, nos precede no Reino dos Céus, para que nós, membros de Seu Corpo, vivamos na esperança de estarmos eternamente com Ele (cf. Catecismo da Igreja Católica, 666). Jesus Cristo, tendo entrado uma vez por todas no santuário do Céu, intercede por nós sem cessar, é nosso mediador (1Tm 2,5; cf. Hb 9,15; 12,24), que nos garante a permanente efusão do Espírito Santo (cf. Catecismo da Igreja Católica, 667), para que possamos ser Suas testemunhas, até a Sua volta.

13. Testemunho. Tanto na 1ª leitura (v.  como no Evangelho (vv. 15-18), Jesus fala do testemunho, que (Ele) espera que seus discípulos deem. Nós, cristãos, vivemos no intervalo entre as duas vindas de Cristo. O tempo da Igreja é assinalado pelas duas vindas de Cristo e, neste grande período, somos chamados a testemunhar a nossa fé. No entanto, este período não é caracterizado pela ausência de Cristo, e nem o testemunho é realizado apenas pelos nossos esforços. Daremos testemunho de Cristo à medida que formos revestidos da força do Seu Espírito, como disse Jesus: “Recebereis o poder do Espírito, que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas” (v. 8a; cf. Lc 24, 49). O Espírito Santo é a força que nós, os discípulos de Cristo, necessitamos para sermos suas testemunhas. No entanto, o Cristo não está ausente, apesar da aparente imagem de despedida na Ascensão. Pelo contrário, o Cristo está em todo lugar, junto a todos nós, e o Seu Espírito nos recorda as Suas palavras e missão (cf. Jo 16, 13-15), para que sempre Lhe sejamos fiéis. As duas vindas de Cristo assinalam o tempo da Igreja e o tempo do testemunho dos cristãos, quando o Senhor não Se faz ver, mas está sempre presente. Por este motivo, S. Bernardo de Claraval fala que no tempo presente se dá a “vinda intermediária” de Cristo, pois Ele se manifesta através da Sua graça, da Sua Palavra, dos Sacramentos, especialmente a Eucaristia, pelas palavras e acontecimentos (cf. In Adventu Domini, serm. III, 4; V, 1: PL 183, 45/A; 50/C-D; cit. Bento XVI, o. c., p. 259-260). De fato, a aparente despedida na Ascensão, é manifestação da glória de Cristo, de sua condição à direita do Pai e, também, de sua presença no meio de nós, na força do Seu Espírito, para que possamos ser Suas testemunhas, até a Sua volta, no fim dos tempos. Por isso, na Santa Missa dizemos, com todo fervor: “V. O Senhor esta convosco! R. Ele está no meio de nós!” 

14. A Ascensão de Jesus é, também, ocasião de nós meditarmos sobre a nossa vocação à glória. Contemplar a Ascensão do Senhor é também viver com a mente no Céu, pois nós participamos da glorificação de Cristo, e esta participação implica numa nova presença no mundo. Não é uma alienação, mas faz com que Cristo seja, de fato, Senhor da História. Ele inaugurou o Seu Reino na nossa história, e nos convoca a sermos os Seus instrumentos de paz. Ele nos garantiu a sua presença (cf. Mt 28,20), e nos reveste de Seu poder, para que a pregação do Evangelho seja acompanhada pelo Seu poder (cf. Mc 16,15-20), como nos atesta o livro dos Atos dos Apóstolos. E Ele nos envia: “Sereis minhas testemunhas até os confins da terra”. Jesus nos envia, para que sejamos os Seus instrumentos de paz para que, com a força de Seu Evangelho e do Seu Espírito, transformemos a realidade que nos cerca.

15. Meus irmãos, a Ascensão do Senhor, que hoje celebramos é manifestação da Glória que o Filho de Deus tem desde a eternidade. A Ascensão do Senhor é também, manifestação da vida nova que o Filho de Deus passou a ter a partir de Sua ressurreição. Na Ascensão, a humanidade do Filho de Deus entrou irreversivelmente na glória divina, pois somente Ele poderia nos abrir as portas do Céu. E contemplando o Cristo que está definitivamente glorificado à direita do Pai, acolhemos, com docilidade o Seu Espírito, para que sejamos sempre as Suas testemunhas, na construção do seu Reino de Paz, até a Sua volta.

V. Louvado seja N. S. J. C. !
R. Para sempre seja louvado!