Solenidade da Natividade de São João Batista
Is 49, 1-6; Sl 138 (139); At 13, 22-26; Lc 1, 57-66.80
1. Meus irmãos,
hoje é a Solenidade da Natividade de São João Batista, estamos celebrando o nascimento do chamado “o último e o maior dos profetas” (cf. Mt 11, 7-15; Jo 1, 19-28), o Precursor, daquele que anunciou o Messias, Jesus Cristo, presente no meio de nós: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), aclamação que sempre fazemos na Santa Missa, após a recitação do “Cordeiro de Deus”. Ele é chamado Batista porque realizava o rito da ablução no Rio Jordão daqueles que aderiam a sua pregação de conversão (cf. Mt 3,13-17). Além do nascimento, celebramos também o martírio de S. João Batista no dia 29 de Agosto, o seu nascimento para a vida eterna.
2. Celebramos o nascimento de S. João Batista, que inaugura o início do cumprimento das promessas divinas, também celebramos o nascimento de Nossa Senhora, em 8 de Setembro, porque ambos nasceram santificados. Maria foi concebida sem o pecado das origens, ou seja, imaculada desde a sua concepção (como celebramos a cada ano, em 8 de Dezembro), e S. João Batista, que foi purificado do pecado original no dia da visitação, quando Maria visita a sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-56), mãe do Batista, aquela que era estéril e que, por graça de Deus, deu ao mundo o maior dos profetas. Naquele momento, S. João Batista, que estava no ventre de Isabel, estremeceu de alegria (cf. Lc 1,44). Por isso, Jesus afirmou que o Batista é “o maior dentre os nascidos de mulher” (Mt 11,11). A Igreja reconhece nesta passagem a purificação de S. João Batista. Nossa Senhora e o Batista foram purificados do pecado original, cada qual a seu modo, para cooperarem na missão do Messias, Jesus Cristo, nosso Salvador: Maria para concebê-Lo e dá-Lo ao mundo; o Batista, para precedê-Lo – e por isso chamado “o precursor” – e anunciá-Lo em meio a nós.
3. A data da celebração do nascimento de S. João Batista é exatamente seis meses antes da do nascimento do Messias, Jesus Cristo. Isto se dá baseado no que o próprio Batista disse numa certa ocasião, referindo-se ao Messias: “É necessário que Ele cresça, para que eu diminua” (Jo 3,30). Baseada nesta citação bíblica, a Igreja determinou que a festa do nascimento de Jesus fosse o maior dia do ano, 25 de dezembro, e para S. João Batista, o menor dia, 24 de junho.
4. Fazia parte das expectativas messiânicas do Povo de Israel, o papel do precursor Messias. Jesus teve como precursor a pessoa de João Batista, de quem Ele teria sido discípulo. Os dois eram reconhecidos como profetas, o que lhes conferia uma originalidade diante do povo, frente aos outros líderes populares daquela época (zelotas, escribas, fariseus, etc.), como se pode ler no Novo Testamento, em especial, nos Evangelhos. Posteriormente, Jesus se afastou do círculo do Batista para dar prosseguimento à sua missão. Jesus era visto como um continuador da obra de João Batista, e até pensavam que era o Batista ressuscitado (Mc 8,28; cf. Lc 9,9). Dada a proximidade entre eles, o Novo Testamento insiste com freqüência na superioridade de Jesus, frente a João (Jo 1,27). Após o cativeiro na Babilônia, o Antigo Israel já não mais tem profecia (Lm 2,9; cf. Sl 74,9), e se esperava o retorno do profetismo (Dt 18,15; cf. 1Mc 4, 46), sinal de renovação, de “tempos novos” (Jl 3,1-5; cf. At 2,17-21). O Batista e Jesus são o marco do renascimento do profetismo em Israel, embora o profetismo não tenha desaparecido totalmente. O Batista e Jesus são o marco do renascimento do profetismo em Israel, e serão seguidos por outros profetas, verdadeiros e falsos. O Batista e Jesus souberam ler os sinais do tempo, captaram o apelo de Deus no clamor do povo, e se tornaram porta-vozes das suas aspirações, com uma reflexão mais madura que os outros movimentos messiânicos que o precederam.
5. A pregação do Batista, o precursor, já tratava do Reino de Deus. Jesus retoma este tema, já conhecida de Israel pela pregação profético-apocalíptica. Jesus prega a chegada do Reino, e afirma que o Reino já chegou com a sua pessoa (Mt 12,28; par.), e Ele envia os seus discípulos a pregarem o Reino (Lc 10,11).
6. Várias são as imagens, em toda a Bíblia, que descrevem o Reino de Deus, mas é possível apreendermos o seu núcleo. O Reino de Deus, consiste basicamente na realização de sua vontade, na terra, como no céu. É como recitamos, todos os dias, na oração do “Pai Nosso” que o Mestre ensinou: “Venha a nós o vosso Reino; e seja feita a vossa vontade, assim na terra, como nos céus” (Mt 6,10). Este núcleo vai sendo percebido na medida em que aprofundamos a nossa compreensão a respeito da missão de Jesus, de quem o Batista foi o precursor.
7. Ainda no Antigo Testamento, o Reino de Deus implicava na intervenção de Deus na história, e cada etapa do Antigo Testamento testemunha diferentemente esta intervenção, para alterar a ordem vigente, promovendo justiça e paz verdadeiras, prioritariamente para os pobres. Com o fracasso da monarquia em Israel vai surgindo uma nova compreensão de Reinado de Deus e, assim, fazendo emergir no Povo a espera por um messias atento às necessidades dos pobres, capaz de operar a reconciliação e a paz, que é fruto da justiça (cf. Is 32,17).
8. Jesus, de fato, é este Messias esperado, que evangeliza os pobres (Mt 11,5; Lc 4,18) e lhes diz que deles é o Reino (Lc 6,20). Os pobres do tempo de Jesus são, tanto os que passam necessidades, bem como aqueles que são desprezados pela sociedade (pecadores, publicanos, prostitutas, etc.). Para eles, Jesus apresenta a Justiça de Deus, que inaugura o Reino em meio aos homens, e lhes indica o novo caminho da história. Este caminho do Reino, manifestado pela conduta de Jesus, em como sua pregação, se dá na prática do amor, capaz de transformar a estrutura de injustiça: daí a necessidade da solidariedade entre os homens. O amor aos homens por amor de Deus, implica no perdão e na justiça. Temos aqui, como que, um tripé das exigências para acolhermos o Reino de Deus: amor, perdão e justiça; um é expressão do outro, um se realiza juntamente com os demais; não se tem um, se se despreza o outro. Assim, tal qual os profetas anunciavam, a reconciliação operada por Jesus, por seu amor à humanidade, deve repercutir em justiça para os pobres, condição para que a humanidade acolha o Reino de Deus.
9. Jesus nos apresentou o reinado de Deus, evangelizando os pobres, indicando a sua libertação da opressão e da marginalidade, desta encarnação do mal experimentada pelos pobres. Através do amor, da solidariedade, a partir dos pobres e dos que se fazem pobres (os que têm “espírito de pobre”: cf. Mt 5,3). O Reino de Deus se dá a partir de relações novas, e não pelo recurso às armas, pois o Reino de Deus, já age em meio aos homens, brota, cresce, amadurece, sem que o homem precise intervir, mas sempre corresponder. E são os pobres o denominador comum destas novas relações, onde já não existe marginalizados e excluídos, mas uma relação de irmãos, que se amam.
10. Portanto, meus irmãos, celebrar a natividade de S. João Batista, o precursor do Messias, é celebrar o próprio Messias, que veio inaugurar o Seu Reino de paz na nossa história, e que terá nos Céus a sua consumação. Jesus Cristo, o nosso Messias, veio inaugurar o Seu Reino de paz e convoca cada um de nós para sermos os seus construtores, tal qual foi S. João Batista, o seu precursor, que foi fiel testemunha até o fim de sua vida, tendo denunciado o adultério de Heródes e de Herodíades (cf. Mc 6,17-29). Jesus Cristo, o Messias, veio inaugurar o Seu Reino de paz, e foi precedido por este grande santo, S. João Batista. Hoje Jesus conta com cada um de nós, para a construção de Seu Reino na nossa história, para que seu Reino de paz cresça, para que Jesus cresça, como dizia o Batista, que Sua vontade se realize; que Seu Reino cresça, certos de ele terá na eternidade a sua consumação.
V. Louvado seja N. S. J. C.!