XV DTC – B
Am 7,12-15; Sl 84(85); Ef 1,3-14; Mc 6,7-13
1. Meus irmãos,
O Evangelho que há pouco foi proclamado descreve o envio dos Doze Apóstolos para uma primeira missão, durante a missão de Jesus Cristo. Era um estagio. Jesus escolheu os Doze Apóstolos porque com eles, e através deles, inaugurou o Novo Israel, o Novo Povo de Deus. O Israel Antigo, o Povo do Antigo Testamento, era formado por doze tribos. O Novo Israel, o Povo do Novo Testamento, foi inaugurado por Jesus Cristo sobre a herança do Antigo Israel. Mas o Novo Israel não está restrito a um povo e a uma nação. O Novo Povo de Deus é formado por aqueles que crêem em Jesus Cristo, de todos os povos e nações.
2. Jesus, no fim de sua missão, enviará os Doze Apóstolos a todas as nações (cf. Mt 29,18-19). Por enquanto, Jesus enviou os Apóstolos às cidades vizinhas, e lhes deu várias orientações. Em primeiro lugar, Jesus orientou que esta missão, que este estagio, se restringisse apenas ao Povo de Israel, porque ele, o Povo de Israel, possui o Antigo Testamento, que é a base da pregação de Jesus e, sobretudo, porque a missão de Jesus não estava, ainda, concluída. Só depois de Sua morte e de Sua ressurreição é que Jesus enviará os Apóstolos a todos os povos e nações.
3. Jesus deu outras importantes orientações. Jesus enviou os Apóstolos “dois a dois” (v. 7). Dois é o número de testemunhas num processo, no Antigo Testamento. Os Apóstolos não falarão de si, mas devem dar testemunho de Jesus Cristo, o Filho de Deus que veio salvar a humanidade, como ouvimos na 2a leitura. Os Apóstolos são, portanto, enviados “dois a dois” para darem testemunho de Jesus Cristo, e para que sejam fieis a Jesus Cristo.
4. Exite, contudo, outra razão para Jesus enviar os Apóstolos “dois a dois”. Os Apóstolos devem anunciar o Evangelho de Jesus, e dar dele testemunho. Cada Apóstolo corre o risco de fazer este anúncio e este testemunho sob a sua ótica. Para que se supere este risco, Jesus enviou os Apóstolos “dois a dois” para que, assim, eles anunciem e testemunhem o Evangelho de Jesus, e não próprio o Evangelho.
5. O anúncio do Evangelho precisa coerência. Os Apóstolos não devem apenas pregar que o Reino de Deus está próximo, mas mostrar a seus ouvintes que o Reino já está entre nós através de Jesus Cristo. Por isso, Jesus deu aos Apóstolos o Seu poder de expulsar demônios, como Ele fazia (vv. 7 e 13). A pregação dos Apóstolos devia ser coerente para ser eficaz, e por isso Jesus deu aos Apóstolos o poder de expulsar demônios e de fazer curas (v. 13) para que eles, com coerência, anunciassem, com palavras e obras, o Evangelho da nossa salvação. O Evangelho tem como primeiros destinatários os pobres. Os pobres são os primeiros destinatários do Evangelho porque eles têm, tantas vezes, o dom da vida negado e ameaçado. Convivendo com os pobres, e dando-lhes novo rumo para as suas vidas, Jesus manifestou à humanidade que Deus ama a todos, e ama a todos a partir dos que sofrem, e que Ele, Jesus, foi enviado pelo Pai à humanidade para que todos tenham a vida, e a tenham em abundância (cf. Jo 10,10). Os Apóstolos, que prolongam este envio de Jesus feito pelo Pai dos Céus, para evangelizar os pobres, deviam viver modestamente, tal qual viveu o próprio Jesus, que se fez pobre e nosso irmão, solidário com os pobres e sofredores, ao anunciar que o Reino de Deus já chegou. Por esta razão, Jesus enviou os Apóstolos dizendo que deviam viver modestamente, confiar na Providência de Deus, e permanecer apenas em uma das casas do povoado a ser evangelizado (vv. 8 - 10).
6. Jesus sabia que nem todos estão com o coração aberto para receberem o anúncio do Evangelho, e que muitos vão rejeitar os Apóstolos como, mauitas vezes Ele próprio foi rejeitado, como ouvimos no Evangelho da missa do domingo passado. Por isso, Jesus alertou que os Apóstolos deviam ser realistas com os próprios fracassos na missão, realismo simbolizado pelo gesto de sacudir a poeira dos pés (v. 11). De fato, o Evangelho é oferecido a todos como meio de salvação, mas Deus respeita a liberdade de quem acolhe e de quem se recusa a acolher a Sua Palavra e a Sua Graça.
7. O desfecho da missão de Jesus se deu com a Sua morte e ressurreição. Ressuscitado, Jesus enviou os Seus Apóstolos a evangelizar todos os povos e nações. Jesus inaugurou o Reino de Deus em meio aos homens, que cresce na história na medida em que se faz a vontade de Deus. É como rezamos todos os dias no “Pai-Nosso”, a oração que o Senhor nos ensinou: “Venha a nós o vosso Reino. Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6,10). O Reino de Deus foi inaugurado por Jesus Cristo, cresce na história até o fim dos tempos, e terá a sua consumação na eternidade. A Igreja, também inaugurada por Jesus Cristo, é o gérmen do Reino, a testemunhar a salvação que Ele, Jesus, realizou com Sua missão, com Sua Morte e ressurreição. A Igreja, sacramento de Cristo às nações, prolonga a missão redentora de Jesus. E cada comunidade católica testemunha esta salvação oferecida por Jesus Cristo, a toda a humanidade.
8. Jesus enviou os Apóstolos e, através deles, envia toda a Igreja, envia a todos nós, para que sejamos Suas testemunhas, testemunhas do Seu amor. As mesmas orientações dadas por Jesus aos Apóstolos dizem respeito a todos nós, a todas as comunidades reunidas no seu nome: anunciar e testemunhar o amor de Deus, que enviou o Seu Filho para a nossa salvação; testemunhar por palavras e atos, portanto, com coerência, esta salvação; viver uma sincera solidariedade com os pobres e sofredores, para que sintam que são amados por Deus, que quer a vida para todos; construir, cada dia o Reino de Deus, fazendo a Sua vontade, promovendo a justiça, a paz e a alegria no Espírito Santo (cf. Rm 14,17).
9. Portanto, meus irmãos, no Evangelho de hoje, nos reconhecemos todos enviados por Jesus Cristo, e também construtores do Seu Reino, por Ele inaugurado. Coerência é o que o Senhor pede de Seus Apóstolos, coerência é o que Ele pede de todos nós. Ele nos dá a sua Palavra, e nos ampara com a Sua graça, na força do Espírito Santo, para que sejamos fiéis construtores de Seu Reino de paz, na vida presente, reflexo da vida eterna que Ele, Jesus, nos conquistou com a Sua morte e ressurreição.
V. Louvado seja N.S.J.C. !