Ez 2,2-5; Sl 122(123); 2Cor 12,7-10; Mc 6,1-6
1. Meus irmãos,
O evangelho de hoje nos mostra Jesus que foi a Nazaré, a sua terra (v. 1), acompanhado de seus discípulos. Ouvimos que Jesus foi ensinar na sinagoga no dia de sábado (v. 2), e que ele escandalizava os seus conterrâneos (v. 3). Por isso, Jesus exclamou: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus “parentes e familiares” (v. 4). S. Marcos termina o seu relato, dizendo que “ali (Jesus) não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando” (vv. 5-6). Podemos, então, nos perguntar por que houve este desencontro entre Jesus e seus conterrâneos.
2. Notamos, em primeiro lugar, que há um equilíbrio entre a pregação de Jesus, os seus milagres, e a fé do povo. Estes três elementos precisam estar combinados. Ou seja, um depende do outro. Jesus não só pregava o anúncio do Reino, a Sua Boa-Nova – o Seu Evangelho – mas tornava o Reino de Deus presente através de Seus milagres. E para realizar milagres, era necessário a fé do Povo. Por isso, S. Marcos disse, como ouvimos, que em Nazaré, Jesus não pôde fazer milagre algum, tendo curado apenas alguns doentes, e que Jesus se admirou com a falta de fé dos seus conterrâneos (vv. 5-6). Portanto, estes três elementos, a pregação, os milagres e a fé devem estar unidos e combinados. Por isso, sem fé Jesus não fez milagres entre os seus conterrâneos.
3. Em segundo lugar, esta difícil experiência de Jesus entre os seus conterrâneos parece que ocorreu por causa do despeito com relação ao conterrâneo famoso, que fazia uma sábia pregação e grandes milagres (v. 2). Mas, na verdade, não se trata apenas de despeito com um conterrâneo famoso, mas, sim, causa de escândalo, como ouvimos (v. 3). Por que motivo os conterrâneos de Jesus se escandalizaram com Ele: a resposta podemos encontrar no relato que S. Lucas fez do mesmo fato da vida de Jesus. S. Lucas mostra Jesus, também, num sábado, na sinagoga de Nazaré, no início de sua missão pública. Lá ele tomou o livro do profeta Isaías, e leu para os presentes o seguinte trecho: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para a proclamar um ano de graça do Senhor”(Lc 4,18-19 ; cf. Is 61, 1-2).
4. Este trecho, lido por Jesus na sinagoga da cidade de Nazaré é similar à profecia de Ezequiel, que ouvimos hoje, na 1a leitura. Trata-se de um texto programático da missão do Messias, que Jesus aplicou a Si, no início de Sua missão. Terminada a leitura, Jesus disse: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos esta passagem da Escritura” (Lc 4,21). Jesus iniciou a sua missão como o Messias salvador, prometido por Deus no Antigo Testamento. Por isso, ao terminar a leitura da profecia de Isaías, Jesus disse Ele cumpriu esta profecia. Jesus serviu-se do mesmo trecho para responder aos discípulos de João Batista que o interrogaram, se Ele era, ou não, o Messias esperado: “Ide contar a João, disse Jesus, o que vedes e ouvis: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho; e feliz aquele que não ficar escandalizado por causa de mim!” (Lc 7, 22-23).
5. Segundo o relato de S. Lucas, os que estavam na sinagoga se indignaram, levantaram, expulsaram Jesus para fora da cidade, e O levaram para um precipício do monte sobre o qual estava construída a cidade, com a intenção de jogá-Lo de lá. Jesus, porém, passando por entre eles, foi-se embora (cf. Lc 4,28-30). É por isso que Jesus disse: “feliz aquele que não ficar escandalizado por causa de mim”.
6. O que Jesus falou de errado para irritar tanto a ponto de ser atirado de um precipício? É porque Jesus está iniciando um caminho de vida e, para percorrê-lo é necessário mudar de vida. A resposta de fé daquela gente de Nazaré seria a mudança de vida, e porque não queriam converter-se, não apenas deram pouco crédito em Jesus, mas também quiseram assassiná-Lo. Disse Jesus, acertadamente: “feliz aquele que não ficar escandalizado por causa de mim”.
7. Jesus conseguiu passar por meio daqueles que queriam assassiná-Lo, e escapou de lá. Não havia chegado a “hora” de Jesus. Ele estava no início da missão, Ele tinha muito o que fazer, muito o que pregar, muito gente para converter. Os membros da sinagoga de Nazaré levaram Jesus ao monte de sua cidade para atirá-Lo de lá. Jesus subirá o monte Calvário para dar a Sua vida por nós no fim de sua missão. De fato, Jesus dará a sua vida pela humanidade. Em Nazaré, Jesus estava no início de sua missão, e não havia chegado ainda a hora. Jesus chama a todos a percorrer o seu caminho de paz, a construir o Reino de Deus, por ele inaugurado, que terá na eternidade a sua consumação. Para percorrer o caminho de Jesus é necessário mudar de vida, como sinal de quem abriu o seu coração e de que Lhe dá fé.
8. Jesus entra na sinagoga na sábado e disse: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos esta passagem da Escritura”. Jesus estava no início de sua missão. Hoje, é domingo, é o Dia do Senhor, o dia que Jesus ressuscitou, e, assim, manifestou a vida eterna. Hoje, estamos reunidos em Seu nome, e ouvimos novamente: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos esta passagem da Escritura”. É de Jesus que nos vem a salvação, é em Jesus que damos fé, é de Jesus o caminho que queremos seguir, que nos realiza na vida presente, e nos conduz à vida eterna. E, assim, reunidos no Domingo, o dia do Senhor, nos comprometemos a ser os construtores de seu Reino de Paz!
V. Louvado seja N. S. Jesus Cristo!