Onde vamos parar?
Há várias semanas a população paulistana acompanha a realidade da violência que acontece em toda grande São Paulo. Conversei com várias pessoas e policiais: A Polícia Militar está com medo. Olha para todos os lados. Alguns policiais desejam andar somente acompanhados. Desconfiam de alguém falando ao celular por perto. Hoje um policial “faz bico” porque o salário merreca que recebe não dá para sustentar o custo de vida. O policial tem a vocação de defender a sociedade, está a serviço dela e do Estado.
Está acontecendo uma inversão de valores. Não se pode mais nem fazer o que se quer: passear, ir ao cinema, teatro, praças, exposições... Um policial afirmou que deixou de visitar os parentes, porque tem medo de sair de casa e não mais voltar. O “toque de recolher” acontece diariamente em muitos bairros. Estabelecimentos comerciais, creches, igrejas, escolas, taxistas e outros estão fechando as portas por volta das 20h, com medo e por ordem do PCC. Particularmente presenciei quando um membro do comando deu a ordem num determinado bairro. É só sair na sacada à noite e ver o esvaziamento nas ruas.
Os meios de comunicação mostram os governantes federais e estaduais se reunindo, articulando alguma logística para acabar com o terrorismo urbano. Mas e daí? A cada dia vemos mais mortes e ônibus queimados. O governo, em tempos de campanha política, promete diminuir a violência nas cidades, mas depois que está no posto, é incompetente para isto. Aliás, lá também tem a “violência financeira”, basta ver o caso do “Mensalão”. Se dentro de casa eles roubam, imagine caro leitor se terão legitimidade para agir nas noites das grandes cidades.
Há anos que o Estado menospreza o crime organizado. Só quando a desgraça aparece nos meios de comunicação que pensam numa tal de “inteligência de ação”, criando alguma forma de enfrentamento. Tudo paliativo. Apenas estão abrandando temporariamente o câncer da violência protelando medidas exatas diante do crime organizado. Aliás, o crime organizado é um governo paralelo ao do Estado e que mostra ter mais decisão e poder.
O PCC é a forma mais criminosa do mundo. E desta vez em São Paulo [mas já se estendendo para outras capitais e importantes cidades do país] existem novos “comandos” em verdadeira guerra. Temos uma população refém, polícia refém e até mesmo o governo está refém nas mãos dos bandidos. Basta conferir o armamento do PCC com o da polícia civil e militar. São formas de terrorismo. Agora veio nova ordem do PCC: cada um que deve muita droga a um traficante e matar um policial será anistiado da dívida. Os policiais merecem o respeito da população, mas são desvalorizados pelos governos. A Polícia de São Paulo é uma das melhores do Brasil e da América Latina.
Parece que estamos no final do túnel sem ver a luz. E discutir o problema da violência urbana deve ser de interesse de todos, não apenas dos governos, cientistas políticos e da imprensa. A sociedade civil deve inverter nas urnas, nas eleições, o descaso que vem acontecendo. São Paulo pede PAZ, mas pedir para quem? Ouve-se dizer nos meios de comunicação que a polícia já prendeu mais de cem, mas a matança continua. Porém, na maioria dos casos também se tem a informação: “ninguém foi detido”.
Usar o exército? Não porque o político usará [um contra o outro] as imagens na próxima campanha política na televisão. Até agora o Estado dizia que isto era invenção da imprensa. Só quando este “câncer” fez metástase é que o governo para pra contemplar e discutir qual seria o melhor remédio. O Comando é inimigo. Este câncer é que está matando e corroendo a liberdade da sociedade. Apenas a doença foi escondida. Algumas autoridades – frente às chacinas – chegavam afirmar que eram apenas fatos isolados. Parece que as grandes cidades viraram uma UTI. Hoje a população tem medo de andar em ônibus coletivo. O PCC chegou avisar que vai acabar com a calma nas cidades que sediarão a Copa do Mundo. Isto porque em 2005 as autoridades vacilaram. O problema da impunidade está na organização governamental.
Uma criança me comentou: “Nossa casa vive em perigo, pois meu pai é policial”. Isto é desespero. Hoje tem pai ensinando seu filho a usar uma pistola ao invés de brincar. No avião não passa um cacho de banana nas malas, mas a droga viaja solta.
Os bandidos simplesmente comentam com seus advogados de porta de cadeia: “Quantos anos vou pegar? E quando vou sair?” Sem contar nos crimes de colarinho branco e o “Comando do Mensalão”. Tudo nada mais é do que ações paralelas. Precisa ver se o Serviço de Inteligência da Polícia Federal acompanha como anda sendo usado o dinheiro público federal. A polícia prende alguns. Os presídios do Brasil estão todos superlotados. E onde vão colocar então os condenados do Mensalão? Precisa deixar algumas vagas para eles e mais alguns da turma do PT.
O que está faltando é uma reformulação do ser humano. Criar a cultura de inverter os valores de competividade e hipocrisia política. Para que se tenha uma nova sociedade se faz necessário reconstruir, reformar o Judiciário, os poderes dirigentes e até a própria mídia. Se a esperança não for recuperada então toda sociedade estará no fundo do poço, na UTI.
Qual o lugar destes criminosos? O pessoal do Mensalão vai ocupar a maioria dos lugares que mal existem nos presídios. Até parece aquela antiga expressão “Perna de Centopeia”.
O Código Penal deve ser revisto. Ou então recuperar e aplicar os 10 mandamentos que quem sabe funcionaria melhor. O que se vê é uma total inversão: o gato tem medo do rato. O cidadão de bem é refém da própria Constituição. Quem deveria defender a sociedade está “preso” e quem deveria estar preso está solto. Os Direitos Humanos existem apenas pra defender os bandidos engaiolados, mas a sociedade que está presa em sua própria casa não tem nem Humanos Direitos. Como diz um grande escritor, Reinaldo Azevedo, “estamos no País dos PETRALHAS”.
Roberto Luiz Preczevski