Moral da Vida e da Pessoa


Moral da Vida e da Pessoa
Na sociedade em que vivemos hoje o indivíduo é único, importante, e irreplicável, a morte não é ignorada, mas é marcada por uma espécie de luto coletivo pela perda social de um de seus membros. Por outro lado, na sociedade onde as pessoas sentem que pouco dano é causado no tecido social pela perda de um indivíduo, perda essa ocorrida fora do cotidiano, a morte recebe pouca ou nenhuma atenção. A morte está enraizada no centro da vida humana. Refletir sobre a morte e o morrer é embarcar em uma exploração que nada mais é do que uma viagem à descoberta do eu.
Falando sobre a morte e o morrer me veio à mente a morte do meu avô materno. Este fato aconteceu em dezembro de 2007. Ele era uma pessoa muita sensata e equilibrada com relação à morte e o morrer. Ele antes de morrer comprou todos os “paramentos de seu velório”. Muitas pessoas tinham receio ao visitá-lo, com medo de ver o caixão. Não estive presente na ocasião de sua morte, mas me falaram que ele antes de morrer chamou todos os filhos, irmãos, noras, etc… e, diante de todos fez seus pedidos, aconselhamento e reconciliou-se com todos. Em seguida pediu que acendesse uma vela e a pusesse em sua mão. Fizeram como ele pediu. Ele respirou profundamente e morreu. Considero isto a atitude de um homem forte. Encarou o sofrimento e a morte com tranquilidade. Coragem e amostra da serenidade diante do momento da Ressurreição para a vida eterna.
Os nossos antepassados viam a morte não como algo assombroso, mas como parte da condição humana, não o fim de tudo mas o começo de uma nova realidade futura. Já se olharmos o Pentateuco, veremos que tudo fica preso apenas no Xeol: “nefesh”; os judeus tentaram uma linguagem, mas sempre terminaram o discurso dizendo que a vida terminava no copo. Mas sabemos que na linguagem veterotestamentária, nosso Deus é dos vivos e não dos mortos. Porque para Ele nunca alguém morre (cf. Mt 22,32; Mc12,27; Lc 20,38).
Hoje, a morte é vista como “o fantasma escondido debaixo de todas as coisas”. As pessoas não têm medo da morte. Elas vêm a vida como se fosse um evento inatingível por essa realidade que é a morte. Elas recorrem a métodos científicos para prolongar a vida. E, isso, a ciências biológicas colaboram muito bem.
De todas as experiências humanas, nenhuma é mais importante nas suas implicações do que a morte. A morte mexe com a questão mais fundamental, mais intrigante, mais desafiadora e que mais inquieta a humanidade, a da sobrevivência pós morte.
Ainda hoje, para a maioria de nós, a morte permanece uma figura sombria cuja presença é só levemente percebida. Nós tendemos a relegá-la à periferia de nossas vidas, acreditando que se ela for colocada fora da nossa vista, também o será da nossa mente.
Hoje mais do que nenhuma época da história da Humanidade gostaríamos se não de esquecê-la ou negá-la, pelo menos controlá-la através dos avanços que as ciências biológicas conseguiram nos últimos dois séculos.
Com que sentido nossa fé que professamos tem uma postura diante da morte?
Diante do fator MORTE, não adianta buscar Dicionários Bíblicos ou Teológicos. Basta apenas se deparar com a lágrima e o silêncio! Fiquei sabendo de um padre, amigo meu de São Paulo, que quando sua mãe morreu, ele mesmo presidiu a missa de corpo presente. Tinha mais seis padres concelebrando. Eles perguntaram a ele se ele tinha condições. A resposta foi: “minha mãe está viva”! A celebração aconteceu direitinho. Com a casula, o padre e o seu irmão com o grupo carregavam o caixão. Mas, no momento que o caixão baixou o padre não aguentou de chorar pela ida da mãe! É esta a hora da morte! A pessoa não morre: é a lápide que mata quem a gente ama!
Um dia conversei com ele e entendi o discurso: a gente nunca perde alguém... ganha um representante familiar junto de Deus; assim como são os santos. Virá o primeiro dia, sétimo dia, um mês, um ano, e isto não passa. A Saudade estará sempre presente. Porém é necessário sentir saudades, pois ela é um termômetro.... tanto quanto amei, tanto sentirei saudades! Amar sempre, pois isto que nos faz viver eternamente mesmo debaixo da lápide!

Ronaldo Viana