E o Carnaval, como vai?
Caríssimos, chegamos a mais um momento lúdico da vida: o carnaval. Em nossa vida celebramos muitas comemorações e o carnaval é mais uma delas. Esta festa carnavalesca começou na Grécia entre os anos de 600 a 520 a.C. Segue um calendário lunar por influência do catolicismo. Os gregos celebravam esta festa de diferentes modos conforme os costumes de cada lugar e representava um agradecimento pelas colheitas agrícolas realizadas no ano.
A Igreja católica adotou a festa do carnaval no ano de 590 d.C. Dentro do catolicismo o carnaval é compreendido como o “adeus às carnes” devido o período de jejum que acompanha a quaresma, daí vem o termo: “carnis vales”dando o nome de carnaval. Carnis significa carne e valles significa prazeres. Daí a origem do termo.
Esta festa ultrapassou as fronteiras da Grécia se expandindo pela europa e hoje celebrada em todo mundo. Paris tem o marco histórico de exportadora desta festa para cidades muito marcantes como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro. Os franceses chamam o carnaval de Mardi Gras, que significa a “terça-feira gorda”. Já o Rio de Janeiro exportou esta festa para São Paulo, Helsinque e Tóquio. O carnaval do Rio de Janeiro se encontra no livro do Guinnes Book como o maior do mundo compreendendo mais de dois milhões de pessoas por dia. O Guinnes Book também contempla Recife declarando o “Galo da Madrugada” como o maior bloco carnavalesco do mundo. Mas, não se pode esquecer que não se trata de uma festa que ocorre com todo o brilho nas grandes capitais. Há dezenas de anos que a vemos ocorrendo em qualquer minúscula cidade do Brasil.
Mas porque o carnaval sempre acontece na véspera das Cinzas? Como o domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que se verificar a partir do equinócio da primavera (no hemisfério norte) ou do equinócio do outono (no hemisfério sul), e a sexta-feira da Paixão é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a terça-feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa.
Mas no século XI, a Igreja Católica instalando oficialmente a Semana Santa, usa da festa do carnaval para a concentração de todos numa festividade que irá fechar os momentos lúdicos antes da celebração da Quarta-feira de Cinzas que marca o início da Quaresma, tempo de abstinência e jejum.
Infelizmente, apesar das origens e tradição, hoje o carnaval não apresenta nenhum sentido cristão. Trata-se de uma festa pagã que ainda está ligada ao calendário cristão. Os carnavalescos precisam a cada ano se adaptar ao calendário que nos leva à Pascoa, por razão das suas origens históricas. E trata-se de um evento que patrocina a cultura e a indústria artística. A Igreja vê o carnaval como manifestação artística, mas já não mais como evento ligado ao cristianismo como era na Idade Média.
Hoje o sexualismo exacerbado rompe com o verdadeiro entretenimento. Quem não lembra as famosas festas das máscaras? Hoje a sexualidade toma conta daquele lúdico vivido por tantas gerações. Se você já visitou Veneza, na Itália, viu que lá entre as ruas e na Praça São Marcos existem inúmeras lojas vendendo máscaras que nada mais são do que a preservação da antiga cultura do carnaval. Mas hoje o que vemos sendo distribuído gratuitamente até nas padarias são preservativos para um “sexo seguro”. O governo brasileiro iniciou nesta última quinta feira a distribuição de 55 milhões de preservativos pelos ambientes comerciais. Pergunto: E o carnaval como vai?
Certo que o lúdico deve ser sempre preservado em nossa vida. E as agremiações de samba, os diferentes blocos com suas alegorias apresentam a criatividade humana e uma forma cultural de se divertir. É muito bom ver os temas escolhidos. Eles representam a manifestação de diferentes classes da nossa sociedade com mensagens que muitas vezes servem até para conscientizar o povo e os governantes. Podem ser até considerados como veículos de promoção humana. Porém, é necessário fazer discernimento e ter um olhar crítico da comunicação de certos enredos. Nem sempre valorizam a família e a pessoa humana. Muitos enredos são montados visando apenas a instituição, sem consultar a sociedade na carência de seus valores.
A Igreja está há mais de 500 anos no Brasil e está aberta para o diálogo. Se alguma escola de samba já sofreu restrições foi porque não soube dialogar. Os enredos devem oferecer respeito não apenas aos católicos, mas também aos judeus, muçulmanos ou quem que que represente uma denominação religiosa. Pergunto de novo: e o carnaval de 2013, como vai?
Caríssimos, carnaval é festa! Festa que deve unir as pessoas e as famílias! Portanto, desejo que os carnavalescos e todos artistas deste carnaval tenham uma festa sadia e que a serenidade seja o marco representativo para o mundo que nos olha nestes dias. A todos um bom e sadio carnaval! Deus abençoe! Ah, só pra não esquecer: e o carnaval, como vai?
Dom Orani João Temprsta, O.Cis
Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese do Rio de Janeiro